Quando a forma potencializa o conteúdo

sexta-feira, 18 de junho de 2010 às 8:28 AM
Dvd’s, data-shows e internet em sala de aula são as novas ferramentas didáticas para ensinar matérias tradicionais à geração multimídia. Para isso surge um novo profissional no mercado: o técnico em multimeios didáticos.


Eles não desgrudam do celular. Durante a aula, os mais variados aparelhos são facilmente notados em cima da mesa junto dos estojos de canetas e dos cadernos de anotações. No intervalo, essa garotada corre ao laboratório de informática para um bate-papo no MSN, uma vasculhada no Orkut e uma postagem rápida no Twitter. Falamos da nova geração de estudantes, que sempre que possível, mantém-se ligada ao mundo por intermédio da tecnologia.

Para acompanhar essa turma, que mesmo na escola parece não querer se separar dos aparatos tecnológicos, professores têm trabalhado junto com novos profissionais da área de educação para apresentar os tradicionais conteúdos de aula de forma nova e instigadora para essa turma que não vive separada da tecnologia. E isso significa mais do que usufruir de recursos como data-shows, scanners, laboratórios de informática e de audiovisual. Significa incorporar ao quadro de funcionários o técnico em Multimeios Didáticos, que é o profissional que auxilia o professor na melhor forma de transpor conteúdos para as linguagens oferecidas pela tecnologia.

Para Fernanda Martins, pedagoga do Campus Centro Histórico do Instituto Federal do Maranhão (IFMA), o profissional habilitado para trabalhar com multimeios atua não só com o manuseio da tecnologia, mas também criando suporte para a aula, auxiliando o professor na preparação de novas metodologias e criando um ambiente favorável para a utilização dos recursos de forma realmente didática. “O técnico em Multimeios Didáticos é o profissional que pode sentar junto do professor e ajudar a preparar as aulas, porque ele é um educador tanto quando o professor”, explica Fernanda.

Segundo a pedagoga, estes profissionais são importantes no mercado porque vem suprir uma lacuna na formação dos mestres de sala de aula: o conhecimento didático para o uso da tecnologia. “O uso correto dos aparatos tecnológicos em sala de aula faz toda a diferença no processo ensino-aprendizagem, porque estimula os estudantes a procurarem saber mais, torna a aula mais atrativa e o professor obtém melhores resultados com a assimilação do conteúdo.” Nesse sentido, Fernanda lembra que o técnico em Multimeios Didáticos cumpre sua função quando melhora as ferramentas que estão a disposição do professor para dar mais corpo às aulas. “Ele aproxima a abordagem dos conteúdos das experiências dos alunos fora de sala”, afirma considerando que hoje a escola se relaciona com uma geração multimídia, que fora da convencional sala com quadro branco, usufrui com habilidade de meios avançados do mundo da informação. “Então a escola se aproxima desses jovens buscando nas experiências deles uma forma de diálogo”, explica a pedagoga.


Novidade no mercado profissional

A oferta desses novos profissionais em São Luís, no Maranhão, ainda significa novidade entre as instituições de ensino. Muitas delas são equipadas com laboratórios de multimeios e até dispõem de funcionários trabalhando na área operacional, com montagem e manutenção dos equipamentos, mas atuando didaticamente, junto ao corpo docente, ainda é raridade.

O Instituto Federal do Maranhão deu início a primeira turma do curso técnico de nível médio em Multimeios Didáticos em 2008, através do Campus Centro Histórico. O curso tem duração de dois anos, sendo o último módulo de estágio obrigatório. Segundo Triciane Rabelo, técnica em Assuntos Educacionais do campus em que o curso é oferecido, para encaminhar esses novos profissionais ao mercado de trabalho, o IFMA realizou junto as escolas de São Luís um trabalho de sensibilização para apresentar a forma de atuação do técnico em Multimeios Didáticos. “Apresentamos o curso e o conceito desse novo profissional para viabilizar o estágio dos nossos alunos e mostrar as escolas o valor que a atuação deles agrega ao trabalho do professor. O resultado foi que nossa melhor aluna foi efetivada ao fim do estágio.”, afirma Triciane.

Até mesmo entre os campus do Instituto Federal do Maranhão, o profissional é novidade. “Nós temos os laboratórios equipados, mas agora com o curso, nossos próprios alunos estão estagiando conosco”, comenta a técnica.

Entre os alunos, conhecer o curso de Multimeios Didáticos foi uma surpresa boa. Para Cláudio Mendes Santos, 18, que conclui o ensino médio em 2009 e logo em seguida foi aprovado no seletivo do IFMA para o curso técnico, a escolha por Multimeios Didáticos nem estava entre as primeiras opções, mas por curiosidade com o campo e com a chance de cursar, Cláudio acabou mudando de ideia e ampliando a visão em torno da tecnologia educacional. “Agora quero seguir a área de sistema da informação, desenho industrial e especialização em designer gráfico”, planeja o jovem que considera o fato de poder trabalhar com professores uma das características interessantes do curso. “E também porque é muito amplo, tem de tudo. Dá pra trabalhar com informática, tv, rádio, cinema, fotografia, fora as oficinas culturais que participamos”, enumera.

Na grade curricular do curso, as principais disciplinas abordam história da educação, filosofia e antropologia aplicadas ao estudo do homem e da cultura, metodologia de projetos, relações interpessoais, psicologia da educação, direito administrativo e segurança do trabalho.

Mídias na Educação

Entre os dias 10 e 12 de junho de 2010, o Congresso Regional da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares em Comunicação (Intemcom) realizado em Campina Grande –PB, abordou o uso das tecnologias da informação como formas de inclusão social se aliadas aos processos educacionais. Para isso, a Intercom reuniu pesquisadores, professores, profissionais da comunicação e estudantes dos nove estados da região nordeste para debater como a comunicação está se aproximando da educação através da tecnologia e da promoção da cidadania dentro das escolas.

Durante a conferência de abertura, na noite do dia 10, o professor Ismar de Oliveira Soares, professor e pesquisador do Núcleo de Comunicação e Educação da ECA/USP explanou sobre o campo de atuação da Educomunicação, que consiste na criação de ecossistemas comunicativos dentro da sociedade com o uso de canais de comunicação, como produção de jornais, revistas e programas de rádio. Nesse sentido, Ismar comentou a educom dentro da escola e os índices de abandono escolar, inclusão digital e uso de tecnologia. Para o professor, além de inserir a educação para mídia nos currículos escolares, as instituições de ensino tem que estar alinhadas ao uso correto das tecnologias.

“O professor tem que motivar seus alunos e pode fazer isso com o suporte da tecnologia”, afirmou Ismar, acrescentando que o abandono escolar não é motivado pela ausência de tecnologia, mas sim pelo mau uso dela. “Pesquisas apontam que o investimento nas TIC’s não estão dando resultado, mas isso acontece quando os alunos não encontram novidade nos recursos apresentados durante as aulas.”, afirma retomando a necessidade da escola se aproximar das experiências e da realidade dos alunos.

Charge retirada do Twitter @comunicadores

Nesse contexto, quem faz a diferença, gerindo o corpo que potencializará o conteúdo é o profissional que o manuseia, e aí pode ser tanto o professor, quanto um educomunicador quanto um técnico em Multimeios Didáticos, porque é a capacitação do recurso humano que vai ditar o ritmo que motivará mudança no cenário de uso da tecnologia na educação.

Programa Rede Mídia - Educomunicação

O objetivo do programa Rede Mídia é ser um fórum de debates sobre todas as nuances e formatos da comunicação. O programa é semanal, com duração de 30 minutos, ancorado pelo jornalista Rogério Faria Tavares, e com a participação de convidados a cada edição. Transmitido pela TV Rede Minas, canal 9 em Minas Gerais. O público-alvo é formado por jornalistas, estudantes e telespectadores interessados nos bastidores da informação.


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Educomunicação

Catálago Nacional de Cursos Técnicos - Eixo Tecnológico: apoio educacional

O Velho Almaço - por Max de Medeiros


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Ficha Técnica
Produção: Saara Sousa e Fernanda Fernandes
Entrevistas: Saulo Galtri
Crônica: Max de Medeiros
Redação Final: Talita Guimarães

O Velho Almaço

quinta-feira, 17 de junho de 2010 às 8:16 PM

O Velho Almaço

por Max de Medeiros[1]

Esta semana reencontrei um velho amigo dos tempos passados. Um cara que me foi bastante útil, mas que agora vive esquecido pelos jovens da geração internet. O bom e velho Papel Almaço, quem se lembra dele? Aquele nosso amigo dos trabalhos escolares, que nos acompanhava até a biblioteca, onde nos debruçávamos sobre os livros para escrever à mão páginas e mais páginas.

Não sei, mas acho que toda crônica tem que ter um ar de saudade, é a nossa inspiração, ou saudade do passado ou saudade do futuro. E quando escrevemos sempre acontece uma coisa legal, colocamos sempre uns óculos para observar o objeto, o tempo e o espaço, e as coisas se revelam de uma forma bastante diferente. Só para constar, escrevo em um editor de texto no computador, não em um Papel Almaço.

Encontrei meu velho amigo em uma escola pública de São Luís. Percebi que grande parte dos alunos da rede pública utiliza os computadores, as lan houses, para realizarem suas pesquisas, mas pelo custo da impressão ainda continuam fiéis ao Almaço.

Mesmo assim, observando os alunos de hoje, principalmente os de escolas privadas, percebemos como as coisas mudaram e como os estudantes ganharam autonomia em todos os sentidos. E isso traz aspectos bons e outros ruins, como quase tudo na vida.

Atualmente, o processo de educação vem se desenvolvendo bastante, principalmente em virtude da introdução da rede mundial de computadores (que termo global, hein!?). Mas, todo processo desenvolvimentistas vem acompanhado de perdas inimagináveis. Talvez essa seja uma idéia romântica dos saudosistas e tradicionalistas, mas nossos companheiros do passado, como o Papel Almaço estão, de fato, sendo esquecidos.

No campo das pesquisas acadêmicas em comunicação, a bola da vez é a discussão da Educomunicação, ou seja, a análise dos processos comunicacionais no processo de ensino-aprendizagem a partir das prerrogativas práticas da Comunicação Social. É curioso quando os campos de conhecimento se interrelacionam e, neste caso, a contribuição para a pedagogia é inegável.

Só que o problema é onde estão nossos alunos, cidadãos com direitos, humanos com necessidades, nessas discussões teóricas?

Fui convidado a monitorar aulas de Educomunicação, mesmo não sendo especialista no assunto, em uma escola pública da cidade, onde reencontrei meu velho amigo. Apesar de ainda um elemento presente desses alunos, o Papel Almaço vem perdendo seu espaço gradativamente. No final das contas, acho que talvez eu seja um romântico tradicionalista ultrapassado e, acima de tudo, um hipócrita, porque também utilizo o computador ao invés do Papel Almaço, inclusive aqui e agora, mas esse processo é bem mais complexo do que parece.

Preciso destacar uma coisa da minha breve experiência com os alunos da rede pública de ensino. De fato, constatei que não existe comunicação no processo ensino-aprendizagem nessa escola pública. As relações dentro da sala de aula são definitivamente estruturadas através de uma verticalização de posições, onde os professores estão no topo, munidos do seu “conhecimento”, e os alunos estão na base, como indivíduos sem conhecimento que têm o dever de digerir o conhecimento ofertado. E os alunos estão condicionados a isso.

Simplificando a discussão, acho que encontrei aqui a problemática para os educomunicadores: estabelecer condições para que a comunicação seja efetivada entre professores, alunos e a comunidade, pois o processo de aprendizagem não pode estar às margens do tempo e do espaço no qual se realiza.

Ainda que talvez tenha encontrado o fio da meada e apesar de ter tentado estabelecer um processo de comunicação horizontalizado entre eu, enquanto professor, e os alunos, descobri logo no segundo dia de aula que não sou educador, pelo menos não na perspectiva escolar e pedagógica. Ser educador, nesse sentido, é uma arte que não se encontra em todos os comunicadores, e eu, definitivamente, não tenho o dom para isso.

Ah, tenho que destacar que minha segunda aula (e última) terminou em uma guerra de bolas de papel incontrolável, dignas daqueles filmes das tardes brasileiras. Mas, sinceramente, espero reencontrar o meu velho amigo Papel Almaço fazendo novas amizades pelas salas de aula do país, das escolas públicas às privadas, convivendo com as novas tecnologias da informação, pois o papel ainda é uma importante ferramenta nesse processo comunicação/educação.



[1] Max de Medeiros Soares, estudante de Comunicação Social e pesquisador na área de Folkcomunicação (Comunicação Popular). Após uma breve viagem pela área da Educomunicação, compreendeu parte das dificuldades enfrentadas pelo sistema de educação brasileiro, que serviram para reafirmar sua vocação pelas pesquisas no campo da cultura popular.