Saudade e Tecnologia

segunda-feira, 17 de maio de 2010 às 11:21 AM
Manter um Blog não rentável financeiramente é complicado. Conseguir tempo para escrever no corre-corre diário é quase impossível, mesmo pra gente que trabalha com comunicação e passa o dia inteiro escrevendo textos e mais textos. Mas a ideia do Blog, enquanto espaço livre para divulgação de informação na sociedade moderna, é fantástica. Principalmente para aqueles que gostam de compartilhar suas inspirações com o mundo. E em um blog, essa noção de mundo não é abstrata, mas real no seu sentido mais virtual, estamos permanentemente conectados com o mundo.
Apesar da falta de tempo, devo confessar que às vezes tenho (ou recebo) a inspiração para escrever algumas coisas, muitas que sequer vão parar no papel, ou na tela do computador, mas que me animam para movimentar o espaço do nosso blog. Se o meu dia ainda tivesse 24 horas, e meu final de semana ainda tivesse dois dias, tenho certeza que eu conseguiria escrever mais.
Acho que saudade seria um tema bastante presente nos meus textos, acho que saudade será sempre um assunto recorrente nos textos de escritores, poetas, cronistas e, por que não, jornalistas. Pois, cada vez mais vivemos de lembranças, vivemos relembrando como éramos felizes, talvez porque as novas tecnologias não substituam por completo a relação que tínhamos com o mundo. A internet, por exemplo, não é capaz de proporcionar a emoção do contato físico do primeiro beijo, ou das primeiras paqueras na escola, ou mesmo a felicidade ingênua de uma brincadeira de rua passada dos mais velhos para os mais novos (quem nunca foi o café com leite da turma?).
Mas, enfim, crescemos, e isso é inevitável. Nossas necessidades mudam, nossos objetivos se concentram nas características da economia capitalista e somos obrigados a nos tornar pessoas frias, práticas e materialistas. Que legal seria se pudéssemos passar o dia inteiro brincando com os amigos, primeiro “esconde-esconde”, depois “rouba-bandeira”, “polícia e ladrão” e “tacobol” até o finzinho da tarde, depois de nossa mãe ter gritado muito do portão de casa para a gente entrar para tomar banho. E depois do banho, voltar para frente de casa para brincar de outras coisas que não precisassem correr ou suar.
Ah, saudade!
Tenho saudades de muita coisa! De pessoas, de locais, de brincadeiras e formas de agir. Tenho saudades, por exemplo, de um espelho. É estranho, mas um simples espelho pode trazer muitas lembranças. Deixa-me explicar, a saudade não é, necessariamente, da estrutura do espelho, mas dos reflexos que ele emitia, da vida que ele retratava. O espelho seria como uma moldura de um quadro que rodeava uma cena que agora já não se repete. Um momento que ficou preso dentro do mundo dos espelhos, guardado como numa caixa de Pandora, de onde resta apenas a esperança de conquistarmos de volta momentos como este, uma caixa inviolável, um mundo que não pode ser acessível através de nenhuma nova tecnologia.
Não quero ser apenas uma máquina, ou melhor, uma pequena peça que faz parte de uma engrenagem que se movimenta eternamente da mesma forma para manter o sistema. Não me conforta a idéia de ser apenas um cérebro controlado por uma Inteligência Artificial, que retira de mim a energia suficiente para sua sobrevivência, controlando meus impulsos elétricos cerebrais. A realidade não pode ser transformada em uma ficção digital de relações vazias de emoções. E somos responsáveis por isso.
Saudades. Até quando vamos continuar sentido saudades? Ou um dia tudo será tão igual que já não sentiremos mais saudade?