II ENBLOG por Talita Guimarães

domingo, 28 de março de 2010 às 1:16 PM

II Enblog: blogueiros reunidos por uma rede de mídias livres

A segunda edição do Encontro de Blogueiros e Mídias Livres, que aconteceu no último fim de semana (20 e 21/03) na cidade de Pinheiro na baixada maranhense, reuniu blogueiros, comunicadores e representações políticas para discutir os rumos da ferramenta de mídia livre no estado do Maranhão. Contudo, o encontro teve forte representação política e seguiu uma linha de debates em defesa da confrontação do sistema político estabelecido no estado com o uso de blogs.


A reunião teve por base a explanação em torno da relação histórica entre política e comunicação e a forma como essa perigosa união compromete o fazer jornalístico. Na palestra principal, ocorrida na tarde de sábado, a mesa foi composta por Edson Vidigal, Wagner Cabral, Robert Lobato, Roberto Rocha e Eri Castro. O tema em pauta era o uso do blog como forma de construção de uma sociedade socialista. No entanto, as falas dos palestrantes esteve envolta em um discurso de oposição política. A platéia foi, inclusive, convidada várias vezes a integrar a rede de mídias livres em prol da liberdade de expressão e da democracia na alternância de poder.


O Deputado Federal Roberto Rocha (foto) falou sobre o uso da mídia livre e da necessidade de expansão de lan houses para ampliar o acesso a rede. Comentou que ao político cabe a preocupação em levar à população o acesso a rede e ao comunicador a informação. Por fim, declarou apoiar as próximas edições do Enblog.

Em sua participação na mesa de debates, Edson Vidigal, ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça, traçou o percurso histórico da política no Maranhão sempre comentando em paralelo a evolução dos meios de comunicação e seu poder de propagação de ideais. Frisou que a mídia livre tem o poder de propagar ideais políticos e comentou que desde a invenção da imprensa, a humanidade se move numa lógica libertadora. Vidigal foi enfático ao relatar que rádio, televisão e cinema nasceram e permaneceram como veículos de manutenção caros, e por isso seus detentores sempre foram indivíduos ligados a alguma forma de poder. Nesse sentido, questionou que a comunicação preocupada com a cidadania perde o foco.Como contraproposta, o ex-ministro do STJ conceituou subversão no sentido puro de confrontamento da ordem estabelecida e encerrou sua participação concluindo que a mídia livre é "um meio pacífico de anacronismo político" e que "neste contexto o blog é sim um meio indispensável para a subversão pacífica".A idéia do encontro começava, assim, a definir seus contornos: fortalecer o uso da mídia livre formada pela oposição política e agrupar mais pessoas nessa prática. E nesse ponto “Nós Tudo!” nos perguntávamos: mídia livre até que ponto? Talvez, livre no sentido de todo e qualquer cidadão dispor de seu acesso e as idéias ali apresentadas não serem censuradas. Bem, então mídia livre sim, mas isenta não. Se há interesse pela tomada de poder, certamente haverá apenas um lado da história.

E assim, a palestra prosseguiu. O discurso de Vidigal foi endossado pela fala seguinte, do professor do departamento de História da UFMA, Wagner Cabral. O professor, dentro de sua área de conhecimento, falou sobre o confrontamento de oligarquias desde Vitorino Freire e lembrou como a comunicação sempre foi usada como ferramenta de divulgação e promoção política. Abordou a necessidade de uma democratização da comunicação e alertou para a concessão de veículos de comunicação ser dada a políticos no Brasil. Passeou pela censura ditatorial, o conceito de big brother como sociedade vigiada e o cuidado ao expressar posicionamentos que podem ser interpretados de várias formas diferentes. “Tudo o que nós dizemos pode ser interpretado de outra maneira, ser transformado em metáfora ou alegoria.”, afirmou Cabral.

O professor falou ainda sobre a forma como os blogs podem manipular informações e citou como exemplo uma pesquisa divulgada nos blogs de Walter Barros e Marcos D’eça em que índices apontavam benefícios da administração da atual governadora do estado do Maranhão. Segundo Cabral, a pesquisa era falsa. Não havia registro da pesquisa ter sido realmente feita. Em um ponto, o palestrante tem razão: é preciso estar atento às notícias que são veiculadas pelos meios de comunicação, livres ou não. Mas é preciso também, que comunicadores, sejam eles jornalistas ou blogueiros tenham como compromisso primeiro, informar. Colocar interesses, sejam políticos ou não, de lado e mostrar o que acontece com sinceridade. É o que “De nós tudo!” espera de um mídia livre.Uma frase, no entanto, que chamou nossa atenção foi dita por Eri Castro, ao fim da palestra do professor de História: “não podemos sucumbir ao canto de sereia da oligarquia”.

Deste modo, o mote do encontro, que pregava a necessidade de uma mobilização social para a expansão da rede de blogueiros maranhenses, assumiu sua intenção política e trouxe em definitivo para o evento, a discussão em torno do uso da mídia para combater interesses políticos. Participar desse evento foi válido, uma vez que presenciar as discussões feitas pelos grupos sociais dá a chance de conhecer o que cada um pensa e como se organiza. No entanto, a proposta do encontro, em seu conceito puro, se perde quando blogueiros e políticos estão muito próximos e lutam juntos pelo poder, ainda que seja de oposição e que a democracia precise desse oxigênio.

Discutir o uso de blogs para dar voz à população e suas necessidades atendidas ou não significa um grande passo para o uso social das tecnologias, mas é preciso cautela e bom senso ao aliar comunicação e política uma vez que não se espera que os erros criticados sejam repetidos por quem os combate quando a chance de chegar ao poder realmente se concretizar.