Histórias do primeiro mochilão "De Nós Tudo!"

quarta-feira, 31 de março de 2010 às 9:31 AM
Pinheiro, impressões deixadas pela Princesa da Baixada

Inaugurando o momento jornalismo mochileiro, trago um pouco do encanto da viagem à cidade maranhense de Pinheiro, que recebeu no fim de semana retrasado o II ENBLOG-MA. Segue agora um pouco da impressão da viagem, recheada de pequenas reflexões do primeiro mochilão intermunicipal da foca que vos escreve.

Como nascem os blogueiros
Foi só ter a caixa de e-mail bombardeada com os convites do II ENBLOG e ver a lista de nomes confirmados crescer, que eu e meus amigos focas de plantão resolvemos definir nossa singela participação no evento. Até esse momento, eu era a blogueira mais “experiente” do quarteto de mochileiros. Mantenho a quase dois anos o blog “Ensaios em Foco”. Em segundo lugar vinha nosso companheiro Saulo Galtri, que infelizmente não nos deu a honra da companhia na viagem, mas mantém a alguns meses o “Clube dos Cachos” e logo estará por aqui fazendo coro ao "De Nós Tudo!". Caçulinha entre os blogueiros, Max de Medeiros, nos acompanha, mantendo desde o início desse ano, o “Blog de Nhozinho”. E encerrando a filinha, a blogueira recém-nascida Saara Sousa, idealizadora deste nobre espaço democrático que chamamos “De nós tudo!”.

Dispondo todos de nossas devidas carteirinhas “Sou blogueiro, sim senhor!”, combinamos de pôr o pé na estrada e seguir rumo a famosa Princesa da Baixada, cidade maranhense de Pinheiro, encontrar pessoalmente nossos nobres colegas virtuais. Fora isso, sendo todos nós, estudantes de jornalismo, o evento por si só já nos interessaria pelo debate em torno da comunicação. Mas como já foi dito por aqui, o encontro teve outro viés, e descobrimos isso na prática. Em todo o caso, a viagem não foi perdida.

Jornalismo mochileiro que se preza se informa antes
Muito bem, como boa e velha curiosa que sou (leia-se perfeccionista, desconfiada e medrosa) resolvi pesquisar sobre a cidade para a qual íamos viajar, assim que decidimos participar do Encontro de Blogueiros.

Pois bem, Pinheiro fica a cerca de 333 km da capital São Luís e para chegar até a cidade, precisamos de apenas três horas de viagem. Primeiro, pegamos o ônibus no terminal rodoviário do Anel Viário em São Luís e levamos cerca de 30 min para chegar até a Ponta da Espera, no bairro Itaqui-Bacanga, onde pegamos o esperado ferry-boat às 17h em ponto.
“Na hora do lunch, eu ando de ferryboat...”*
Mochileira de primeira viagem, eu nunca havia viajado de ferry e passei a semana anterior a viagem cantarolando o “Samba do Approach”* do maranhense Zeca Baleiro para disfarçar o medo da travessia de uma hora na tal balsa gigante. Acabou que medo foi a última coisa que senti ao pisar no ferry-boat “São José”, providencialmente disponível para nossa viagem exatamente no dia 19 de março. Dia de São José Operário e dia da Escola. Tudo a ver. Três estagiários em busca de algo que somasse ao conhecimento acadêmico. Estávamos protegidos e fomos com fé.

A travessia foi tranqüila, regada ao papo sobre infância e desenhos animados. No ferryboat tem televisão, lanchonete e um grande espaço para os passageiros irem muito bem acomodados. Mas eu não quis saber muito de assistir o Aladim que passava na Sessão da Tarde daquela sexta-feira, então depois de lancharmos, arrastei Saara Sousa e Max de Medeiros para frente do ferry, onde fomos pegando vento no rosto e curtindo a paisagem com direito a muita água do Canal do Boqueirão e pôr-do-sol.
Já em terra firme...
Aportamos no povoado de Cujupe, pertencente ao município de Alcântara, por volta das 18h e retornamos ao ônibus, (que viajou no ferry junto com a gente!) para mais uma hora de estrada.
O motorista, conhecedor dos percalços das estradas maranhenses, passava por cima dos buracos sem dó. Mas até que a MA 106, que nos leva até a baixada maranhense, não estava em um estado de deixar nós mochileiros, chacoalhando sem parar nos assentos. Mais um trecho de viagem tranqüila e finalmente chegamos em Pinheiro.

Pinheiro-MA em Foco
Minha impressão da cidade? A primeira vista, ao descer do ônibus e caminhar alguns metros, nada muito discrepante em relação a alguns bairros mais estruturados de São Luís. Avenidas largas, muitas farmácias, comércios, lanchonetes, bares, lan houses, hotéis e pousadas. Chegamos a Praça José Sarney (sim, ele também já esteve por lá, aliás, foi de lá que ele saiu. Pinheiro é a terra natal do ex-presidente) e paramos para um lanche na fofíssima rede de lanchonetes local Disney Lanches. Durante os três dias, fiquei como criança em parque de diversão, olhando em volta sem parar e querendo brincar em todos os brinquedos. Andamos pela cidade e curtimos muito a tranquilidade em que vivem as pessoas das cidades do interior. Permanecemos por lá de sexta a noite até domingo a tarde, e pelas nossas andanças percebemos uma cidade estruturada em termos de comércio e aparentemente organizada em termos de órgãos públicos com fachadas bem construídas, ruas sinalizadas, parques e praças identificados. Restou saber se durante o ano as coisas realmente funcionam e atendem a população satisfatoriamente.

Ainda assim, uma coisa é certa: Pinheiro é princesa por natureza. Foi impagável sentar às margens do Rio Pericumã, que corta a cidade, e deixar a vista se perder no campo, entre os muitos cavalos e búfalos que de longe pareciam pontinhos brancos e pretos na imensidão verde do pasto.

Foi bom ver crianças tomando banho de rio, mulheres lavando roupas e canoas passarem de tempos em tempos levando pescadores ou pessoas com sacas de alimentos. Foi relaxante olhar para o rio e ter certeza, encarando aquelas águas aparentemente calmas, mas de alertada correnteza, que “ninguém toma banho duas vezes no mesmo rio.” Não seríamos mais os mesmos, nem o rio.
Infelizmente, os maus hábitos dos homens estão presentes em qualquer lugar. Uma canoa motorizada passou agitando a água. Alguns rapazes, ocupantes da canoa, faziam barulho e dividiam uma garrafa de bebida. A sacola plástica que envolvia a garrafa foi deixada pra trás, na água, na nossa frente.
E fiquei pensando. Desde antes daquele momento já não éramos mais os mesmos. Talvez aquela vista, durante aqueles minutos ali deixados, tivéssemos nos tornado melhores em alguma coisa. Mais sensíveis. Talvez, mais humanos. Mas e o rio com homens por perto? Daqui a quanto tempo não será mais o mesmo?
Outra reflexão que fiz entre os momentos em que perdia a vista entre o rio e o campo foi o motivo que nos levou até ali. O real motivo era a realização do II Encontro de Blogueiros e Mídias Livres do Maranhão, que a cidade sediava. E pensei, como pode, uma blogueira e estudante de jornalismo como eu, nascida e criada na capital, ter que ser levada a uma cidade de natureza tão viva pela tecnologia. Será que foi preciso conhecer primeiro o ciberespaço, com suas ferramentas que levam um mundo para dentro de casa, para depois saber que existe um rio, um campo, muitos cavalos e uma paz incrível a três horas de casa? Realmente, fiquei surpresa comigo mesma.
Da viagem, de apenas três dias, ganhamos um fim de semana de paz e muitas reflexões. Relaxamos da vida corrida na capital e conversamos muito. Também demos espaço ao silêncio, andamos pela cidade sem pressa e esquecemos por três dias o que é rotina e horários a cumprir.
Descobri um pedaço de paraíso no Maranhão e que preciso viajar pelo estado sem pretexto. Apenas pelo prazer de conhecer minha terra. É o que realmente vale a pena.
Vida sem relógio
Não levei relógio para Pinheiro. Sim, amigos! Vitória! Consegui me desgrudar da rotina por três dias. Apesar de cumprirmos horários em virtude do Enblog.

Mas não é bem sobre cumprir rotinas de olho nos ponteiros do relógio que escrevo. Falo sobre o tempo. Viver sem pressa. Que coisa boa foi andar pela cidade depois da palestra e não ver o tempo passar. Acordar e pensar em nada, em nenhum compromisso firmado para a noite. Viver os dias pelo prazer de seguir em frente pra ver o que iria acontecer. Sem relógio, sem agenda, sem rotina. Foi, sem dúvida, a melhor experiência que já tive em uma viagem.
Não houve uma melhor parte, nesses três dias. Tudo foi válido. A caminhada na noite da chegada com as mochilas nas costas pela rua grande pinheirense, uma avenida larga que tem três nomes de acordo com trecho. A manhã de sábado às margens do Pericumã. O almoço muito bem servido pela gentil acolhida na casa de Dona Maria. A tarde de palestra no Enblog. A noite na Pizzaria do Babá, onde por incrível que pareça comemos piaba e traíra, em vez da massa. A longa caminhada de volta, regada a gargalhadas das histórias de primo e infância no interior. Dormir tarde e nem se estressar se no domingo acordaríamos cedo. Mesmo sem despertador, acordamos cedo sem explicação. Curtimos a ida a feira da cidade como um passeio por um mundo novo. De barraca em barraca, fomos comprando babaçu, cupuaçu, pimentas, pitombas e coisinhas que até achamos em São Luís, mas naquele contexto, tinham um gosto especial.
Provei macaúba e me apaixonei pela farinha biriba. E olha que sou maranhense, mas nunca gostei de farinha. Andamos sem pressa e respiramos ar puro. Voltamos pra “nossa casa” em Pinheiro e assistimos televisão conversando enquanto o almoço era preparado. Mais fartura e gentileza. Nos sentimos em casa.
“Tudo que é bom dura pouco e não acaba cedo...”*
Ainda bem que Biquíni Cavadão* colocou em palavras o que eu senti depois de partir de Pinheiro. Apesar de não termos pressa, o tempo passou e pareceu, depois de nossa volta à rotina, que foi tudo muito rápido. Mas bem diz a frase, pode ter durado pouco, mas não acabou. Não findou a vontade de voltar à princesa da baixada e curtir mais alguns dias por lá. Não cessou a vontade de seguir para mais mochilões intermunicipais que caibam em fins de semana. Não teve fim a lembrança do rio, do campo, da tranquilidade.

Depois que algo para de acontecer, restam lembranças. Estas podem não acabar logo em seguida. Podem durar ainda muito tempo. Podem se transformar em coisas novas. Basta que esse fio de esperança não desvaneça e seja prolongado com novas idéias colocadas em prática.
Quem sabe voltaremos a Pinheiro. Alcântara também merece uma visita, assim como Barreirinhas, Carolina... Acho que essa história não acaba tão cedo.