JOSÉ MARQUES DE MELO E ALCIONE EM SÃO LUÍS

sexta-feira, 9 de abril de 2010 às 4:00 PM

Do conforto da academia à dureza da prática

Vida de foca é um mar de descobertas. Sim, é muito empolgante descobrir a profissão tendo a chance de freqüentar a academia e o mercado ao mesmo tempo. “De nós tudo” que o diga. Entretanto poder se colocar entre esses cenários e participar das discussões decorrentes de pesquisas e estudos proferidas pela voz da experiência é algo indispensável a boa formação profissional.

Na última quarta-feira (07), “nós tudo” teve a chance de assistir a palestra-aula do renomado professor Dr. José Marques de Melo no Auditório do jornal O Imparcial, no Renascença. O evento fez parte da comemoração dos 40 anos do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão e discutiu a história da evolução da televisão no Brasil.

A partir do tema “Televisão no Brasil: 60 anos de ousadia, astúcia e inventividade”, o alagoano Marques de Melo percorreu os principais acontecimentos referentes ao desenvolvimento da televisão desde as primeiras transmissões no Brasil, na década de 50. A cada período de dez anos, Marques de Melo conferiu uma definição que representasse a evolução da programação e do aparelho na história brasileira. Assim, mesclou seu amplo conhecimento acadêmico, fruto de pesquisas e estudos, a experiência pessoal como telespectador.
Amante confesso de telenovelas, o professor também usou de bom humor para envolver a platéia, tomada por estudantes, professores de comunicação e jornalistas locais. Deu uma aula sobre a história da televisão passando perspicazmente pelos comentários pontuais de feitos memoráveis do telejornalismo e dos estudos que surgiram à medida que a televisão se tornava popular. Falou da contribuição do pernambucano Luiz Beltrão na academia aos recentes estudos desenvolvidos em mestrados e doutorados pelo Brasil. Lembrou aos estudantes da importância de humanizar a televisão e encerrou a aula falando sobre sua atual missão: resgatar a memória da televisão brasileira.
Não é todo dia que a comunicação maranhense recebe um estudioso do porte de José Marques de Melo. Felizmente, “nós tudo” pode acompanhar mais essa discussão importante e ouvir o que um professor titular da Cátedra Unesco tem a dizer. Confesso, entretanto, que fiquei desapontada com a platéia. Sobraram alguns lugares, em um espaço que merecia ser mais disputado. Alguns integrantes abandonaram a platéia no meio da fala do palestrante. Talvez por outros compromissos, não devemos julgar. Mas que um raro momento desses deveria ter alguma prioridade na agenda de acadêmicos e profissionais, ninguém pode negar.

Mas entendemos. Não podemos negligenciar a dureza da prática que cancela compromissos e sufoca a teoria.
Logo depois da palestra, “nós tudo” seguiu para a Praça Maria Aragão e rapidamente pode observar a comprovação desse fato. Acontecia na referida praça a gravação do DVD da cantora Alcione. Diga-se de passagem, o primeiro DVD da maranhense gravado em sua terra.
O show, soou como um ensaio, onde o público reunido gratuitamente agia feito figurante e era levado a esperar entre uma música e outra enquanto ajustes técnicos para a gravação do DVD eram feitos. Fora a repetição das canções, que grande parte do público não cantou por não conhecer mesmo. E receio que parte daquelas pessoas talvez nem sequer conhecesse a cantora ou uma mísera música de seu repertório.

Mas essas minhas considerações realmente não interessam muito a grande massa que assistirá a matéria sobre o show no dia seguinte. Nem é papel do jornalista estar opinando assim, de forma tão direta. Mas como estávamos lá no posto de observadores (e não fãs), podemos comentar o ambiente observado e trocar opiniões.
Foi aí que nos deparamos com a dureza da prática jornalística. E quando falo dureza da prática é dureza da prática literalmente. Presenciamos a experiente repórter da TV Mirante (afiliada da Rede Globo no Maranhão) Regina Sousa sentar no patamar da Praça Gonçalves Dias, no alto da praça Maria Aragão, acompanhada do câmera para gravar uma passagem com um ângulo razoável do show. Dura vida de repórter de tv. Não basta cobrir um show lotado já quase meia noite de uma quarta-feira. E não basta ter um texto bom, na ponta da língua para gravar em meio ao barulho ensurdecedor da super-aparelhagem de som. Tem que escalar o público e sentar-se perigosamente em um muro para concretizar o trabalho. É quando saímos do conforto da teoria e da academia para a dureza da prática, onde o que vai fazer a diferença no produto final é a capacidade de improviso e o jogo de cintura. Literalmente.